Marielle Franco foi uma vereadora do Rio de Janeiro, ativista dos direitos humanos e defensora das minorias. Ela foi assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018, junto com seu motorista Anderson Gomes, quando saía de um evento na Lapa. O crime chocou o Brasil e o mundo, e gerou uma onda de protestos e manifestações por justiça.
Quase seis anos depois, o caso ainda não foi totalmente esclarecido. Apesar de dois ex-policiais militares terem sido presos e acusados de serem os executores do crime, os mandantes e os motivos ainda são desconhecidos. As investigações enfrentaram diversas dificuldades, interferências e contradições, e até hoje não há uma resposta definitiva para a pergunta: quem mandou matar Marielle Franco?
Os executores: Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
Ronnie Lessa é um sargento reformado da PM, que perdeu uma perna em uma explosão de uma granada em 2009. Ele é apontado como o atirador que usou uma submetralhadora HK MP5 para alvejar o carro onde estavam as vítimas. Segundo as investigações, ele teria feito pesquisas na internet sobre o endereço e o CPF de Marielle e sua filha dois dias antes do crime, usando um site privado de consultas de crédito.
Élcio Queiroz é um cabo expulso da PM em 2015, por envolvimento com o jogo do bicho. Ele é acusado de dirigir o carro usado na emboscada, um Chevrolet Cobalt prata, que foi clonado e abandonado após o crime. Segundo as investigações, ele teria ido à casa de Lessa no dia do crime, e os dois teriam seguido juntos até a Lapa, onde esperaram Marielle sair do evento.Os dois foram presos em suas casas, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, o mesmo onde morava o então deputado federal e atual presidente Jair Bolsonaro. Essa coincidência levantou suspeitas sobre uma possível ligação entre os acusados e o político, mas até o momento não há provas concretas que sustentem essa hipótese.
Lessa e Queiroz foram denunciados por duplo homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa das vítimas) e por tentativa de homicídio da assessora de Marielle, Fernanda Chaves, que estava no carro e sobreviveu ao ataque. Eles estão presos na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, e aguardam o julgamento, que ainda não tem data marcada.
Os mandantes: Domingos Brazão e outras hipóteses
A grande questão que permanece sem resposta é: quem mandou matar Marielle Franco e por quê? Quem teria interesse em silenciar uma vereadora que denunciava as violações de direitos humanos, a violência policial e as milícias no Rio de Janeiro?
Uma das principais linhas de investigação aponta para o envolvimento de Domingos Brazão, um ex-vereador e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Ele é suspeito de ser um dos chefes da milícia de Rio das Pedras, uma das mais poderosas e violentas do estado, que atua na zona oeste do Rio, a mesma região onde Marielle tinha forte atuação política.
Em janeiro de 2020, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou uma denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusando Brazão de ser o mentor de uma trama para atrapalhar as investigações do caso Marielle, plantando falsas pistas e testemunhas. Segundo Dodge, Brazão teria interesse em eliminar Marielle por ela representar uma ameaça aos seus negócios ilícitos e aos seus aliados políticos.
A denúncia de Dodge se baseou em uma delação premiada de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, um ex-PM e miliciano que está preso desde 2017, acusado de vários crimes. Curicica afirmou que Brazão teria contratado um policial civil, Rodrigo Ferreira, para forjar um depoimento, no qual ele acusava o vereador Marcello Siciliano, rival político de Brazão, de ser o mandante do crime, junto com o próprio Curicica. Essa versão foi desmentida posteriormente, e Ferreira admitiu que mentiu a mando de Brazão.Em janeiro de 2024, uma nova reviravolta no caso: o site Intercept Brasil revelou, com exclusividade, que Ronnie Lessa teria feito uma delação premiada, na qual ele apontava Domingos Brazão como um dos mandantes do assassinato de Marielle. Segundo o site, Lessa teria confirmado que recebeu R$ 200 mil para executar o crime, e que Brazão teria contado com a ajuda de outros dois ex-policiais, Leonardo Gouveia da Silva, o Mad, e Edmilson Gomes Menezes, o Macarrão, para intermediar o contato com Lessa.
A delação de Lessa, no entanto, ainda não foi homologada pela Justiça, e enfrenta resistência do Ministério Público do Rio de Janeiro, que a considera inconsistente e contraditória. Além disso, Brazão nega qualquer envolvimento no crime, e diz que é vítima de uma perseguição política.
Outras hipóteses também foram levantadas ao longo das investigações, mas nenhuma delas foi comprovada até o momento. Entre elas, estão:
A influência de organizações internacionais, como a ONU ou a Anistia Internacional, que teriam interesse em criar um mártir dos direitos humanos, para desestabilizar o governo Bolsonaro e promover uma agenda globalista.
A participação de políticos ligados à família Bolsonaro, como o senador Flávio Bolsonaro e o ex-deputado estadual Rodrigo Amorim, que teriam interesse em eliminar uma opositora ideológica e uma concorrente eleitoral.
A atuação de grupos de extermínio formados por policiais e ex-policiais, que teriam sido contratados por empresários, políticos ou milicianos para assassinar Marielle, por ela denunciar suas atividades criminosas. Estas foram algumas das hipóteses levantadas e sem fundamentos, a mais próxima de acreditar é a primeira delas.
A falsa acusação contra Bolsonaro
Em outubro de 2019, uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, causou uma grande polêmica ao divulgar que o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde moravam Ronnie Lessa e Jair Bolsonaro, teria dito à polícia que, no dia do crime, Élcio Queiroz teria entrado no local dizendo que iria à casa do então deputado federal. Segundo a reportagem, o porteiro teria ligado para a casa de Bolsonaro, e alguém teria autorizado a entrada de Queiroz.
Essa informação, se fosse verdadeira, colocaria Bolsonaro como um possível cúmplice ou mandante do crime, pois ele teria conhecimento da presença de um dos executores em seu condomínio. No entanto, a reportagem foi desmentida no dia seguinte, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou provas de que Bolsonaro estava em Brasília no dia do crime, e que a voz que autorizou a entrada de Queiroz não era dele, mas de Ronnie Lessa.
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