A ligação entre o conselheiro do TCE-RJ, o ex-PM e a ex-presidente Dilma Rousseff: quem mandou matar Marielle Franco?


O crime que chocou o Brasil em março de 2018, a execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro, ainda não foi totalmente esclarecido. Quem ordenou o ataque à parlamentar do Psol, que lutava pelos direitos humanos e denunciava as milícias? Qual o motivo do atentado? E qual o vínculo entre os suspeitos e a ex-presidente Dilma Rousseff?

Essas são algumas das questões que a Polícia Federal busca responder em uma investigação que já se arrasta por quase seis anos. Recentemente, o caso ganhou um novo desdobramento com a delação premiada de Ronnie Lessa, o ex-policial militar acusado de ser o atirador que matou Marielle e Anderson.

De acordo com o site Intercept Brasil, Lessa revelou à Polícia Federal (PF) que Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), foi um dos mandantes do crime. A informação foi confirmada por fontes ligadas à investigação. O acordo de delação ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois Brazão tem foro privilegiado.

Brazão já era suspeito de atrapalhar as investigações, em 2019. Ele também foi preso, em 2017, na Operação Quinto do Ouro, uma operação da Lava Jato no Rio de Janeiro, por acusação de receber propina de empresários. Ele ficou quatro anos afastado do cargo de conselheiro no TCE, mas voltou em novembro de 2020.


A principal hipótese para que Brazão mandasse matar Marielle é vingança contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo Psol, hoje no PT, e atual presidente da Embratur. Freixo foi o presidente da CPI das milícias, em 2008, que citou Brazão como um dos políticos liberados para fazer campanha em Rio das Pedras, uma das áreas dominadas pelos grupos paramilitares. Freixo também teve papel fundamental na Operação Cadeia Velha, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2017, que levou à prisão de Brazão e outros políticos do MDB.

Mas onde entra Dilma Rousseff nessa história? A ex-presidente, que foi afastada do cargo em 2016, após um processo de impeachment, já foi aliada de Brazão no passado. Em 2014, Brazão fez campanha para a reeleição de Dilma, que disputava com Aécio Neves, do PSDB. Na época, Brazão era deputado estadual pelo MDB e integrava a base de apoio do então governador Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Brazão aparece ao lado de Dilma, em um comício no Rio de Janeiro, elogiando a gestão da petista e pedindo votos para ela. "Dilma, você é a nossa presidente, você é a presidente do povo brasileiro, você é a presidente que vai continuar fazendo esse país crescer", diz Brazão, que também agradece a Dilma pelo apoio ao Rio de Janeiro.


O vídeo foi usado por adversários políticos de Dilma
para tentar associá-la ao crime contra Marielle. Em 2019, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, compartilhou o vídeo em seu Twitter, com a seguinte mensagem: "Domingos Brazão, conselheiro do TCE-RJ, é apontado como mandante do assassinato de Marielle. Ele é do MDB e fez campanha para Dilma em 2014. Será que a esquerda vai pedir #LulaLivre ou #DilmaSolta?".

Dilma nunca se pronunciou sobre a relação com Brazão, mas sempre manifestou solidariedade à família de Marielle e cobrou a elucidação do caso. Em março de 2019, um ano após o crime, ela escreveu em seu site oficial: "Marielle Franco foi assassinada por defender os direitos humanos, as mulheres, os negros, os pobres e os LGBTs. Ela foi vítima de um ato bárbaro que atentou contra a democracia e a liberdade de expressão. Exigimos justiça e a punição dos responsáveis por esse crime hediondo".

Atualmente, Brazão continua exercendo o cargo de conselheiro do TCE-RJ, apesar de uma determinação do STJ para que ele fosse afastado novamente. Lessa está preso desde 2019, acusado de homicídio qualificado e porte ilegal de arma de fogo. Dilma segue na vida política, como presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.


Comentários